Para além do óbvio: Por que uma comunicação eficaz é importante?

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Numa manhã de março de 2022, o engenheiro civil Rafael Komatsuzaki Abjaudi e Melo, 28, reuniu sua equipe no galpão improvisado de um lote vago da capital mineira para passar instruções sobre um importante projeto que o grupo assumira naquele dia.

“Estávamos reconstruindo um centro de saúde para a prefeitura que precisava de uma nova calçada com uma estrutura adequada para deficientes visuais. Era uma obra delicada que exigia muita atenção nos detalhes, especialmente por envolver uma série de regras e normas que diziam respeito à acessibilidade. Em outras palavras: não havia margem para erros”, recorda o profissional.

Diante de tamanha responsabilidade, ele sabia que precisava ser transparente e meticuloso para que nada saísse do planejado.

“Durante a conversa, fiz questão de explicar tudo minuciosamente, marcando, inclusive, onde cada um deles tinha que trabalhar. Minha intenção era que todo mundo me compreendesse perfeitamente”, enfatiza Rafael.

Porém, apesar de todo esforço, sua mensagem acabou não sendo compreendida.

“Quando fui conferir o trabalho na parte da tarde, encontrei um serviço totalmente diferente do que esperava. Aquilo que parecia óbvio para mim, infelizmente, não foi para eles”, lamenta o engenheiro.

E o pior, o erro de comunicação gerou transtornos e grandes prejuízos, inclusive financeiros. “Tudo por causa de informações distorcidas”, complementa.

Mesmo em uma sociedade hiperconectada, problemas de comunicação são cada vez mais comuns e podem, muitas vezes, ser o estopim de grandes crises tanto nas relações pessoais quanto nas profissionais.

“O aumento do número de formas de conectividade não implica em eficácia na comunicação”, aponta a psicóloga, mestre em relações interculturais e especialista em terapia cognitivo-comportamental, Renata Borja.

Ela diz que comunicar-se de forma eficaz é uma competência social que deve ser aprendida e desenvolvida ao longo do tempo.

“Isso está ligado diretamente à capacidade do indivíduo de produzir comportamentos que expressam suas intenções, emoções, pensamentos e desejos de forma respeitosa e hábil. Só assim conseguimos resolver problemas e atender nossos objetivos e metas sem maiores prejuízos”, observa.

A psicóloga Érika Miranda sugere que o caminho para se evitar falas mal interpretadas no nosso dia a dia é sermos claros e positivos o tempo inteiro.

“Quando não nos comunicamos com transparência haverá sempre prejuízos e impactos em nossas relações. Sendo assim, é importantíssimo nos certificarmos que estamos sendo compreendidos a todo instante. Só assim vamos conseguir criar relacionamentos mais autênticos e saudáveis”, indica.

A especialista cita ainda que problemas de comunicação costumam tornam-se mais graves em momentos de crise.

“Se nos expressamos bem em situações extremas, então conseguimos lidar com qualquer questão de uma maneira favorável. A maioria dos conflitos está relacionada justamente à falha na comunicação, e esse tipo de erro pode gerar muitos problemas a nível cognitivo, emocional e comportamental”, justifica Érika.

Fugindo do óbvio
Estudiosos indicam que um dos deslizes mais comuns na hora de se transmitir ideias é achar que aquilo que parece senso comum tem o mesmo efeito para todos.

“Um dos erros de pensamento típicos é a chamada leitura mental – que é acreditar que é possível saber-se o que o outro está pensando, ou que aquilo que você pensa é o que o outro pensa também. A realidade, no entanto, é que cada pessoa interpreta, sente e reage diferente a um mesmo estímulo ou situação”, analisa Renata Borja.

Para ela, muitos dos problemas de comunicação têm relação direta com nossas expectativas que criamos a respeito de nós mesmos e dos outros à nossa volta.

“São os nossos vícios de interpretação que nos fazem reagir de forma equivocada em muitas situações”, completa.

Mas será que existem maneiras efetivas para aprendermos a expressar melhor nossas ideias?

“Sem dúvida que sim”, afirma a psicóloga Ana Paula Casagrande.

“Para isso é necessário ser o mais natural possível, sem buscar copiar outras pessoas. Mas vai além disso também. A pessoa precisa ter domínio do que está falando, ser coerente e evitar exageros, como, por exemplo, ser demasiado formal ou informal”, ensina.

Renata Borja concorda e acrescenta que há esperança para se corrigir tudo isso.

Segundo ela, evidências em algumas abordagens científicas – tal como a programação neurolinguística –, demonstram que podemos aprender a nos tornar comunicadores mais efetivos.

“A terapia cognitivo comportamental, assim como outras abordagens que utilizam técnicas de habilidades sócio-emocionais, têm muitas estratégias que contribuem nessa área. A terapia comportamental dialética, por exemplo, ajuda pacientes com síndrome de borderline a conseguirem uma comunicação competente”, detalha ela.

Borja propõe ainda que o ideal é darmos menos ouvidos para as nossas ruminações e preocupações.

“É importante sermos mais claros em nossas interações pessoais. Dessa forma, poderemos colher as emoções alheias e comunicarmos melhor as nossas emoções e intenções”, aconselha.

Mais do que falar e escrever bem, a comunicação é uma habilidade que exige delicadeza, poder de persuasão e qualidade de argumentos, descreve Érika Miranda.

“Como se trata de uma habilidade de interação, qualquer falha nesse processo reflete negativamente nas pessoas. Vivemos em um mundo tecnologicamente conectado, então o maior desafio é mantermos uma visão crítica para não sermos reféns desse excesso de informação. O mais importante é ter empatia e buscar entender e ser entendido em qualquer situação”, conclui.

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